Nós e A Velha Senhora

Ou

 Não digam que não avisei

 

 

A Velha Senhora 

Avis Struthio

 

 

 

         Meu número de inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil é 13.439, em São Paulo. Minha mulher Dyonne é mais antiga ainda. Advoga, aos 92 anos. É inscrita sob nº 7.500. Antes de nós dois há aqui um ou outro (ou outra), sendo importante estarem em razoáveis condições biopsíquicas para a intermediação dos problemas jurídicos havidos por aí. Dyonne e eu, mais uns poucos, somos dispensados do pagamento das anuidades, porque a Velha Senhora (a OAB) entende que já sofremos o suficiente. Sobram, no mínimo, setecentos e noventa e nove mil, novecentos e noventa e oito companheiros postos a lutar para a solução dos encargos. Além destes, um milhão de bacharéis anda pelas lonjuras, preocupados, em boa porção, com o chamado “Exame de Ordem”, chamado popularmente de “exame da ordem”, último obstáculo à desmoralização da advocacia no país. Devo dizer que me mantive atento, durante 62 anos, àquilo que vem acontecendo ao ensino e estudo do Direito, cooperando, aliás, numa luta incessante contra o paulatino vitupério. Prova disso, sem querer vangloriamento qualquer, é a fotografia posta abaixo, representando a capa de um livro, em sucessivas edições, editado sob os auspícios da Velha Senhora. A efígie não tem o meu rosto, mas exibe alguém becado abraçando uma espada junto ao peito, sendo importante dizer que me foi emprestada com extremo cuidado no Museu do Ipiranga, pois pertencia ao acervo atinente a uma vetusta personagem do Brasil Império. É bom registrar isso tudo, principalmente em se levando a bom termo a antiguidade deste criminalista, robustecendo-se o brocardo “Antiguidade é Posto”.

 

         Não se entenda que existe no contexto tentativa de valorização profissional. Chega um momento na vida em que tudo é passado, estreitando-se a visão do porvir. Assim, resta a este advogado, pela última vez, advertir os responsáveis pelo ensino jurídico no país, partícipes e fiscais do conjunto, sobre a hecatombe em desenvolvimento nestas bandas. Já me exauri nessa disputa, apontando o apodrecimento em que buscam colocar a advocacia. Convenço-me, cada vez mais, de não haver interesse maior no tratamento do assunto, nisto envolvidos os órgãos públicos a tanto destinados, as entidades fiscalizadoras do exercício do ministério e, também lembrados, importantes órgãos de imprensa vicejando na pátria, por razões, talvez, ligadas a possível inutilidade de tal tipo de enfrentamento. Na verdade, já mandei críticas acentuadas sobre a caótica movimentação de instituições voltadas à instrumentalização do Direito, demonstrando, inclusive, o ciclópico abastardamento em torno do tema, sem que houvesse, aqui e ali, esforço maior na higienização. É como se todos, mas todos mesmo, estivessem cientes do desastre e da inutilidade de lidar com aquilo, na medida de não se enxergar qualquer parte saudável nos organismos a servirem de censores da putrefação. Num sentido bem pragmático, convenço-me da inutilidade dos meus esforços, embora atento, é bom dizer, a um tímido esforço do Presidente do Conselho Federal da OAB no sentido de reivindicar a proibição, por 05 anos, de novos cursos jurídicos. Afirme-se, aliás, que o ensino “on line” é disseminado indiscriminadamente nos chamados “pólos”, alcançando-se então porções etéreas do espaço abrangido pela internet, tornando-se ridícula, então, pausa qualquer na poluição dita física. Não se fale no abastardamento da chamada pós-graduação, comercializando-se, inclusive, a compra e venda de teses de doutoramento postas à traficância por empreendedores muito astutos.

 

         Dentro do contexto, remeti a respeitado órgão de imprensa nacional um texto contendo, em linhas gerais, comentários análogos àqueles agora postos escancarados, não obtendo repercussão. A Velha Senhora está quieta. O país tem 27 seccionais, cada qual sediada num Estado da Federação, uma delas posta no próprio Distrito Federal. Estamos silentes, todos. A nação tem, segundo consta, um advogado para cada recorte de 164 habitantes. Citei, alhures, o nome do novo Ministro da Educação, competente engenheiro agrônomo, sem resultado qualquer até o momento. Portanto, não tenho mais a dizer. Nossa fauna exibe, a quem quiser conhecer, um bicho chamado avestruz. A ave, segundo acentuam, costuma enfiar a cabeça em buracos no chão. É mentira. No máximo, encosta a cabeça e o pescoço na toca, virando os ovos para incubá-los. Quem sabe, a comparação venha a contento, porque, no fim das contas, o desenfreado desenvolvimento desses cursos de Direito deformados mereça a proteção das poedeiras. Aquilo dá lucro fenomenal. E La Nave Vá.

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